Felicidade e Mídias Sociais

“Sofremos muito com o pouco que nos falta
e aproveitamos pouco o muito que temos”

Shakespeare
Foto: Carol Magalhães/Unsplash

Estamos vivendo, de modo intenso, a era das mídias sociais* e das redes sociais* digitais. Todos parecem estar conectados a elas e ninguém parece ter ficado de fora. Em função da pandemia do Coronavírus, essas redes e os aplicativos de comunicação instantânea foram catapultados a uma condição imprescindível para a aproximação e o convívio das pessoas, ainda que de modo virtual. 

Em tempos de isola-confina-distancia(mento), conseguimos ver, conversar e nos relacionar com muitas pessoas, próximas ou nem tanto, seja para resolver necessidades pessoais, afetivas ou profissionais. Mas até que ponto isso nos faz mais felizes? Qual a relação das mídias sociais com a Felicidade? Existe Felicidade nas redes? 

Este artigo trata destas questões, examinando como as mídias sociais podem afetar, positiva ou negativamente, nossos níveis de Felicidade.

*As mídias sociais são canais de descentralização e veiculação de informações, que envolvem produção, divulgação e compartilhamento de conteúdo, permitindo a interação de seu público, sendo que as relações ficam em segundo plano. 

*As redes sociais, por seu lado, são um espaço online, onde pessoas se relacionam e interagem, expõem suas ideias e partilham de interesses em comum. Redes sociais são parte das mídias sociais, como uma subcategoria, pois ao mesmo tempo em que as pessoas se relacionam, também usam a ferramenta para produção e divulgação de conteúdo. 

Neste artigo, não fazemos distinção conceitual entre mídias sociais e redes sociais, que são tratados como equivalentes.

A Felicidade está na rede?

Redes sociais são poderosas ferramentas de convívio social e, até mesmo, de negócios, que auxiliam na aproximação entre as pessoas. Navegar nas redes para ver notícias sobre casamentos, fotos de férias, a chegada de um novo bebê, a compra de uma casa ou mesmo a emoção de uma balada é uma atividade cotidiana e repetitiva. 

Foto: Ekaterina Bolovtsova/Pexels.com

Nos tempos atuais, e cada vez mais, as mídias sociais tornaram-se muito convenientes para as pessoas se conectarem, independentemente de sua localização geográfica. Com todo o sofrimento provocado pela pandemia, as redes nos permitem desconectar um pouco do cenário de notícias tristes e de medo. Elas ajudam a preencher lacunas, propiciando aos usuários mais oportunidades de contato social, ainda que não presencial. Elas desempenham o papel de fio condutor, que une membros de famílias e amigos. 

Mas parece que estar conectado é uma condição para a Felicidade. É preciso estar nas redes para experimentar o sentimento de pertencimento ao grupo. Se alguém não tem Facebook, WhatsApp, Instagram, ou outra rede social, não está no mundo e, portanto, não está feliz. Você não tem essa impressão?

Foto: Ketut Subiyanto/Pexels.com

Vivemos em uma grande rede, onde tudo parece fazer sentido e onde todos (ou quase todos) estão sorrindo. É como se a vida real tivesse se tornado uma extensão, um plug-in da rede, ou até um aplicativo que se baixa na play store ou app store. Mas, será que a Felicidade nas mídias sociais é real? 

É importante lembrar que ver nem sempre é acreditar. Muito do que vemos nas mídias sociais não é real. É claro que, muitas vezes, as pessoas podem postar imagens e textos não tão felizes, sobre saudade, alguma situação triste, dor, perdas, homenagens. Mesmo assim, raramente as pessoas postam imagens negativas de si mesmas. Não quer dizer que tudo seja necessariamente encenado. O fato é que há apenas uma perspectiva pretendida e, por meio dela, tendemos a fazer comparações. Várias vezes, negativamente. Afinal, a grama do vizinha sempre parece mais verde.

No caso do Instagram, por exemplo, o feed de outra pessoa é provavelmente e propositalmente muito organizado, todos têm que parecer muito felizes e as fotos postadas têm que ser realmente positivas. Acaba sendo uma perspectiva unilateral da vida de outras pessoas. Com isso, muitas vezes tendemos mesmo a substituir qualidade dos relacionamentos por quantidade. 

Em busca de likes

Compartilhamos tudo a fim de que, pelo olhar do outro, haja aprovação. E, não raro, verificamos incessantemente a quantidade de curtidas, como se fosse condição necessária para a Felicidade. Imersos nas redes sociais talvez não consigamos perceber que quanto mais ávidos por “likes”, mais sozinhos podemos acabar nos sentindo. 

Foto: Prateek Katyal/Unsplash

Embora vejamos cada vez mais pessoas na companhia umas da outras, mas cada uma imersa no seu mundo virtual pela tela do celular, ainda se pode dizer que a maioria usa mais as mídias sociais quando está sozinha. Assim, o tempo gasto nas redes apenas aumenta o sentimento de solidão. 

Em outras palavras, valorizamos “likes” e “curtidas” e somos compelidos a fazer dezenas de postagens diariamente, como se precisássemos da aprovação do outro, vivendo uma representação. Mas a Felicidade nas mídias sociais não é sua real representação e parece apenas esconder a solidão do confinamento que nos encontramos. 

A comparação nas mídias sociais e o efeito negativo sobre a Felicidade 

A forma como usamos as mídias sociais pode influenciar negativamente nossa sensação geral de Felicidade e bem-estar. Entre várias razões implícitas para isso, um dos maiores problemas é a comparação social. 

Foto: fauxels/Pexels.com

Um estudo recente examinou os impactos do uso de três redes sociais populares (Facebook, Twitter e Instagram) sobre os componentes do bem-estar subjetivo (afeto positivo, afeto negativo e satisfação com a vida). Os resultados apontam que o uso diário e por várias horas de mídias sociais impacta negativamente no bem-estar subjetivo ao longo do tempo. Um padrão claro nos três sites de rede social.

E o que mais impactou negativamente foi a comparação social. Os participantes do estudo disseram que quanto mais se comparavam aos outros enquanto usavam as redes sociais, menos felizes se sentiam.

Os seres humanos observam continuamente aqueles ao seu redor em um processo chamado de teoria da comparação social. As mídias sociais impulsionam esse processo já que a maioria das pessoas acessa seus feeds para assistir e comparar, passivamente, com muito mais frequência do que para fazer suas próprias postagens ou atualizações. Ou seja, não parece ser a intensidade do uso de redes sociais que importa, mas, sim, o quanto alguém se compara àqueles ao seu redor.

Foto: Vladimir Fedotov/Unsplash

O uso passivo das mídias sociais, que envolve percorrer as postagens e atualizações de outras pessoas, gera pouca ou nenhuma interação recíproca, ao mesmo tempo que oferece ampla oportunidade para comparação social. Visualizar imagens e atualizações que retratam seletivamente outras pessoas de forma positiva pode levar os usuários de mídias sociais a subestimar o quanto os outros realmente experimentam emoções negativas. Ou pode levar as pessoas a concluir que sua própria vida não é, comparativamente, tão boa.

Portanto, por meio das mídias sociais e redes sociais virtuais é muito fácil concluir que sua própria vida simplesmente não está à altura. Que ela não é tão divertida, nem tão glamorosa. Isso não é real!

O debate sobre as redes e mídias sociais e Felicidade continuará no próximo artigo. Então, fique de olho aqui no blog e acompanhe nossos conteúdos no Instagram (mas sem comparações, hein!).

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