
“Filhos… Filhos?
Trecho do poema Enjoadinho, de Vinícius de Moraes
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-los?…”
Para muitas pessoas, ter filhos é fundamental para uma vida significativa e gratificante. Muitos acreditam que uma vida sem se tornar mãe ou pai tende a ser mais vazia, menos recompensadora e mais solitária, afinal, “filhos são a alegria da casa”.
Será? Ter filhos faz as pessoas mais felizes? Qual a relação entre maternidade, paternidade e Felicidade?
Neste artigo vamos abordar estas e outras questões sobre um tema complexo, delicado, envolvente e maravilhoso: filhos.
Os termos paternidade e maternidade são utilizados de forma equivalente neste artigo, sem distinção de gênero. Ambos são apresentados ao longo do texto para expressar o sentido de ter filhos.
Filhos: ter ou não ter, eis a questão
Felicidade, como já discutimos em vários artigos aqui no blog, resulta de dois construtos fundamentais: a satisfação com a vida, que é o quão feliz você está, e o bem-estar, que é como você se sente a cada momento.

Ter filhos tende a aumentar a satisfação com a vida. Uma pesquisa identificou que tanto pais, quanto adultos sem filhos têm níveis semelhantes de satisfação com a vida. No entanto, mães e pais experimentam mais alegria, ainda que mais ansiedade e estresse diário.
A decisão de ter filhos é, antes de tudo, uma escolha que vai além da dimensão emocional e envolve fatores financeiros e físicos, já que criar filhos é uma das tarefas mais difíceis da vida. É também uma decisão que está relacionada a deixar de ser somente filho para passar a ser pai ou mãe e abrir possibilidades novas e ricas, como a imensa capacidade de amar. Afinal, ter filhos é ser apresentado a esse tal amor incondicional.
Um filho emociona os pais com suas conquistas, como quando pronuncia a primeira palavra inteligível, quando começa a andar ou quando escreve seu nome pela primeira vez. Para muitas pessoas nada traz tanta alegria e orgulho quanto seus filhos. Não apenas por suas realizações e conquistas, mas por seu desenvolvimento como seres humanos e seu crescimento em bondade e generosidade.
Contudo, ainda que os pais considerem seus filhos como fontes incrivelmente importantes de satisfação com a vida, esse conceito não é a mesma coisa que Felicidade. Ter filhos não necessariamente faz com que as pessoas sejam mais felizes.
Ter filhos torna as pessoas mais felizes?
Há muitos aspectos positivos na paternidade que propiciam significado, satisfação e conexão na vida dos pais, mas estudos em Ciências Sociais oferecem uma visão mais complicada acerca da relação entre ser pai e ser feliz.

Uma pesquisa que analisou dados de pais em 22 países europeus sugere que não há nada intrínseco à paternidade que faça as pessoas se sentirem mais ou menos felizes porque têm filhos. A relação entre maternidade e os níveis de Felicidade é muito mais influenciada pelo conflito entre o tempo dedicado à família e o tempo dedicado ao trabalho. Ou seja, pais que têm que dedicar menos tempo aos filhos em função da atividade profissional tendem a ser menos felizes.
Criar filhos pode coincidir com a meia-idade, uma fase da vida que pode ser mais estressante em vários níveis. Uma pesquisa analisou os efeitos duradouros que os filhos exercem sobre a Felicidade dos pais e os resultados revelam que pais mais velhos, com filhos menores que ainda estão em casa, tendem a ser menos felizes do que pais cujos filhos já saíram de casa. Filhos menores em casa são normalmente mais ativos e barulhentos e parecem ter um impacto mais significativo sobre o bem-estar de pais mais velhos.

Um estudo recente sugere que filhos realmente tornam seus pais mais felizes, mas apenas depois de saírem de casa. Pais cujos filhos deixaram a casa têm maior satisfação com a vida e menos sinais de depressão. Segundo a pesquisa, isso ocorre, em parte, porque os pais contam com os filhos para oferecer cuidados e ajuda financeira, o que compensa o estresse de criá-los.
O relacionamento de um casal também é influenciado pela presença de filhos, o que pode impactar nos níveis de Felicidade. Um estudo realizado por pesquisadores da Princeton University e da Stony Brook University descobriu que casais sem filhos tendem a ser mais felizes em seus relacionamentos e a se sentir mais valorizados por seus parceiros do que casais com filhos. As conclusões da pesquisa não estão relacionadas à questão de ter ou de não ter filhos, mas às dificuldades enfrentadas para criá-los.
Por fim, quando se pensa em ter filhos, dinheiro é um fator importante que pode afetar a Felicidade dos pais. Em uma pesquisa de 2019, os pesquisadores descobriram que, quando removiam as dificuldades financeiras da equação, ter filhos aumentava a Felicidade. Ou seja, quando as circunstâncias financeiras são mais favoráveis, a Felicidade associada à maternidade tende a ser maior.
Felicidade é o que importa

As pesquisas analisadas sugerem que o efeito causal de ter filhos sobre o nível de Felicidade dos pais, alvo de grande parte da literatura, ainda não está bem explicado. A interpretação dos resultados de tais pesquisas faz com que pensemos sobre quem escolhe ter filhos (ou não). Se pais escolhem ter filhos e “não-pais” optam por não tê-los, não há razão para se esperar que um grupo possa ser melhor ou pior do que o outro, já que ambos se caracterizam por uma escolha deliberada.
Por outro lado, embora a paternidade em si possa não ser um bilhete premiado para a Felicidade, a maneira como pais se veem no seu papel influencia diretamente sua sensação geral de bem-estar. E a maioria das pessoas considera que seus filhos tornam suas vidas melhores.
Ser pai ou mãe de um, de dois, de muitos, de nenhum. Ter (ou não) filhos não é o mais importante. O que importa é saber o que faz você feliz e buscar sua Felicidade.
“…Porém, que coisa
Enjoadinho, de Vinícius de Moraes
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!”
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2 respostas para “Filhos e Felicidade”
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