Infância e Felicidade

“O que era maravilhoso
na infância é que tudo nela era uma maravilha.
Não era apenas um mundo
cheio de milagres, era um
mundo milagroso”

G.K. Chesterton
Foto: samer daboul/Pexels.com

 Que saudade da minha infância…”; “O melhor período da vida…”; “Eu era feliz e não sabia…”.

Essas são frases que, em algum momento, nós já usamos ou ouvimos alguém proferir, recordando o tempo de criança. Um tempo de Felicidade, sem preocupações, onde podíamos desfrutar dos bons momentos da vida com pureza, doçura e muita diversão. 

Será? 

As crianças são mais felizes mesmo? Adultos felizes foram crianças igualmente felizes? O que significa Felicidade na infância? 

Neste artigo vamos explorar essas questões e celebrar o Dia Universal dos Direitos da Criança (20 de novembro).

Infância, um tempo de Felicidade (até onde nossa memória alcança)

Quando perguntamos a uma criança o que é Felicidade, normalmente sua primeira reação, antes de responder, é sorrir. Um sorriso que, por si só, traduz Felicidade, pureza e alegria. Um sorriso de alguém que experimenta emoções positivas ao brincar, aprender, fazer novos amigos e construir memórias que vão lhe acompanhar por toda a vida.

Foto: Alexander Dummer/Pexels.com

Todos temos memórias da infância. Muitas delas boas, outras nem tanto. Algumas delas lembramos no detalhe, outras estão incompletas, mas que se avivam e se avolumam quando outras pessoas contribuem com lembranças, ou mesmo quando visualizamos fotos ou vídeos antigos.

Contudo, a compreensão sobre os acontecimentos de nossa infância pode ser bem diferente quando encarada desde uma perspectiva de adulto, pois as impressões da infância não são necessariamente reflexos precisos da nossa Felicidade naquele período de tempo.

Podemos vir a recordar de nossa infância como um pouco melhor ou até um pouco pior do que realmente ela foi. Então, se por um lado os eventos da infância podem ter um impacto (positivo ou negativo) sobre o bem-estar psicológico durante a idade adulta, por outro lado, a percepção acerca desses eventos também pode influenciar o nosso nível de bem-estar.

Criança feliz, adulto feliz

Foto: Yaroslav Shuraev/Pexels.com

A percepção (positiva) de ter desfrutado de uma infância feliz está associada a uma maior conexão social, maior senso de identidade e comportamentos saudáveis. Já as impressões adversas da infância podem estar relacionadas a maiores dificuldades em relacionamentos interpessoais, na autopercepção e em como lidar com a angústia.

Pesquisas desenvolvidas no campo da Psicologia Positiva têm explorado até que ponto diferentes aspectos da infância estão associados à percepção de um indivíduo acerca de quanto sua infância foi feliz. As percepções da Felicidade infantil estão mais relacionadas a eventos e atividades sociais do que a eventos mais solitários.

Por exemplo, uma festa para celebrar uma ocasião especial é importante para a memória de uma infância feliz, ao passo que o prazer produzido por brinquedos e jogos individuais têm um impacto menor sobre os níveis de Felicidade na infância. Tradições familiares, elogios recebidos e interação (fazer coisas juntos, compartilhar segredos, etc.) com irmãos, amigos ou adultos de confiança são importantes para estabelecer uma infância feliz.

Foto: Thirdman/Pexels.com

É claro que não se pode proteger as crianças de todas as adversidades na infância, nem tampouco é possível garantir que elas tenham apenas momentos de sucesso e Felicidade, mas o papel de outras pessoas à sua volta é decisivo e o fato de sentir-se amado pelos pais é o que mais contribui para a Felicidade na infância.

Quando chegamos à idade adulta não sentimos mais que a quantidade de brinquedos, troféus ou notas altas que recebíamos quando criança eram tão importantes quanto pensávamos. O que é importante para nós, como adultos felizes, é saber que compartilhamos alegrias e tristezas, sucessos e decepções com pessoas que nos amaram.

Muito tempo depois de nossas memórias de brinquedos, presentes, resultados de testes desaparecerem, os sentimentos de confiança, conforto, segurança e amor permanecem.

A importância da diversão para a Felicidade – para crianças e adultos

Foto: Yan Krukov/Pexels.com

Há alguns fatores que podem fazer a diferença nos níveis de Felicidade na infância e na idade adulta e um dos principais está relacionado à diversão. Quando se trata de divertir-se, as crianças sempre levam vantagem sobre os adultos. Embora a maioria dos adultos goste de uma boa brincadeira, o desejo geralmente é moderado por uma necessidade conflitante de progredir na vida ou de fazer as coisas acontecerem.

O cotidiano dos adultos e o das crianças é bem diferente. Enquanto o dia de um adulto é amplamente preenchido com tarefas, responsabilidades e aquisição de recursos, o dia-a-dia de uma criança é geralmente estruturado em torno da diversão. Embora a brincadeira seja vista como um componente necessário na infância, na maioria das vezes ela é considerada um luxo para os adultos.

E quando a diversão passa a ocupar um espaço cada vez menor no nosso dia-a-dia, adultos e crianças ficam menos felizes. Então, vamos dedicar mais tempo à diversão, a praticar um hobby, a atividades físicas e ao lazer. Diversão não é coisa de criança, é coisa de “gente”.

À medida que envelhecemos, nossa escala de prioridades muda e a diversão e as brincadeiras passam a receber menos atenção ao longo dos dias. Correr em círculos no quintal por longo tempo, com uma fantasia de pirata, não parece mais ser uma boa ideia.

Enquanto nos afastamos de nossa infância, tendemos a não valorizar o espaço para a diversão em nossas agendas. Na verdade, toda a noção de jogo imaginativo parece que começou a ir embora quando chegamos à puberdade. Passamos a nos preocupar mais com a aparência pessoal, a impressionar pessoas que nos interessam e a dominar (ou pelo menos coexistir pacificamente com) pares.

Não é porque não estamos mais na infância que não vamos brincar e nos divertir. Afinal, sejamos crianças ou adultos, o que queremos é ser felizes. Para isso, a diversão é importante pois tem impacto positivo e direto em nossa saúde física e mental e em nosso bem-estar.

Então, bora se divertir? Bora ser feliz?

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