Clique menos, viva mais

Nos momentos críticos que vivemos desde o início da pandemia, agravados por eventos nacionais e mundiais que nos inquietam, tendemos a intensificar mais ainda nossa busca de informações, entretenimento e companhia nas mídias sociais*.
Um comportamento simples, comum e quase minimalista para a maioria das pessoas. Uma busca de efeitos e de recompensas positivas que se tornou diária, repetitiva e viciante.
Uma mania que nos tornou “maníacos das mídias sociais”, em uma saga diária por serotonina, sem perceber ou até negligenciando os efeitos negativos de tal comportamento.
Motivados pela importância do tema e dos diferentes impactos que esse comportamento causa em termos psicológicos, sociais e mesmo econômicos para as pessoas, voltamos, neste artigo, ao tema da saúde mental, analisando e discutindo outros efeitos e consequências.
E, como sempre, destacamos a importância de uma mente equilibrada para uma vida mais feliz.
*Da mesma forma que em artigos anteriores aqui no Blog, neste texto adotamos os termos mídias sociais, mídias digitais ou redes sociais com significados similares, sem estabelecer uma distinção conceitual entre eles.
Mídias sociais (demais) têm efeitos negativos (demais)
Invariavelmente, o uso excessivo de mídias sociais apresenta efeitos negativos ou mesmo danosos e que não percebemos, já que eles ocorrem em um processo gradual, mas crescente.

Buscar validação em grupos das mídias sociais tem se tornado uma epidemia que atinge a todos, com uma taxa de “contágio” alarmante e efeitos psicológicos como ansiedade e depressão e sensações frequentes de tristeza.
Um exemplo desse comportamento e de seus efeitos está refletido no aumento de postagens de “influenciadores digitais”, em diferentes redes sociais, acerca do tema Transtornos de Personalidade Limítrofe (TPL)*.
Postagens que influenciaram e geraram uma espécie de epidemia entre jovens, especialmente nos Estados Unidos, que passaram a se autodiagnosticar com essa doença, com base em uma descrição “googleana” de uma pesquisa na Internet.
Estudos que se dedicaram a analisar essa “epidemia” apresentam relatos de jovens que passavam de 12 a 15 horas por dia em mídias como Instagram, TikTok ou YouTube e apresentavam, invariavelmente, sintomas de depressão. Para tentar entender o que estava ocorrendo, os jovens passaram a seguir influenciadores e grupos online sobre o tema TPL.
Alguns deles relataram que sentiam uma sensação de pertencimento e, lenta e involuntariamente, passaram a se comportar replicando ou imitando o que estavam aprendendo sobre o TPL.
*O Transtorno de Personalidade Limítrofe (TPL) caracteriza-se por uma instabilidade de humor, de comportamentos e de relacionamentos. Os sintomas podem incluir instabilidade emocional, sensação de inutilidade, insegurança, impulsividade e relações sociais prejudicadas.
Epidemia social digital
Este relato, entre outros, denota que estamos em meio a um “contágio social digital”, em que certas doenças psicológicas podem ser disseminadas pelas mídias sociais sem a ação de qualquer agente biológico, mas que ataca nosso sistema imunológico psicológico. Um problema que o isolamento provocado pela Covid só agravou.

Ao usarmos (ou sermos usados por) algoritmos que encontram e exploram nossas vulnerabilidades psicológicas, é grande a possibilidade de virmos a ficar doentes. Agregue-se a isso o fato de que, em decorrência de uma verdadeira pandemia, muitas pessoas não conseguem escapar do sedentarismo e do isolamento de um convívio social mais intenso.
A vida passa, então, a ser vivida e contada por meio de uma tela de um smartphone. Sem perceber, somos muitas vezes expostos a conteúdos psicologicamente tóxicos, de influenciadores insípidos e superficiais, que não contribuem em nada para nosso equilíbrio e saúde mental. E isso não é bom para a nossa psique.
Atenção alta, consciência reduzida
No mundo das mídias sociais, a principal moeda são seguidores e visualizações. Nesse contexto, a disputa é feroz pelo principal ativo: nossa atenção. E são justamente os conteúdos e os influenciadores exagerados que mais atraem essa atenção e seguidores, como mariposas em torno uma “chama digital”.

Em mídias como TikTok e Instagram há milhares de influenciadores, que acumulam milhões de seguidores. Se, de um lado, há influenciadores, de outro há “influenciados”. Centenas de milhões deles.
Seguidores que, consciente ou inconscientemente, imitam ou replicam ideias, preferências e comportamentos. E isso poderia ser considerado normal, afinal, somos animais sociais programados para imitar uns aos outros, seja na pintura tribal, no hábito de fumar, na torcida por seu time favorito ou nas mídias sociais.
A grande diferença, no entanto, é que o impacto de comportamentos tóxicos e disseminados digitalmente nas mídias sociais são muito ampliados à medida que se tornam virais.
E mesmo assim, embora tenhamos consciência de que as mídias sociais são prejudiciais à nossa saúde mental, parece que não conseguimos parar. Como em uma situação de alcoolismo, as consequências para a saúde tendem a ser significativamente negativas quando precisamos compulsivamente de outra bebida… ou de um like.
E quanto mais da toxina digital consumimos, mais nosso sistema imunológico psicológico tende a enfraquecer, tornando-nos ainda mais vulneráveis a mais consumo, manipulação e modificações de comportamento.
Por um consumo equilibrado de mídias sociais
Mas afinal, se somos seres conscientes e pensantes, porque dedicamos tanto de nossa atenção às mídias sociais, permitindo que seu uso excessivo prejudique nossa saúde mental?

Porque estamos envolvidos em um processo de “encantamento” simples e gradual, com o uso de técnicas de modificação de comportamento, alimentadas por sofisticados algoritmos.
Primeiro desenvolve-se o hábito, depois o vício e, por fim, ficamos suscetíveis a manipulações, em um contágio social digital que pode levar a situações de extremismos ideológicos, disruptivos e infelizes.
É importante termos consciência desse processo e querer mudar para melhorar nossos níveis de Felicidade e equilibrar nossa saúde mental.
O primeiro (e grande) passo para isso é tentar precaver-se dos efeitos virais (e nocivos) das mídias sociais, concentrando menos nelas e mais em você. Diminuir ou limitar o tempo de uso de mídias sociais, dedicando tempo para enriquecer seu intelecto, expandir sua mente e ser mais feliz.
Começar com pequenas ações que podem ter um grande impacto em nosso equilíbrio.
1. Ler mais. Boas leituras servem como uma vacina para a epidemia social digital e um bom antídoto para o nível de postagens irracionais e superficiais nas mídias sociais.
2. Fazer as coisas com um propósito. Como já discutimos em vários artigos aqui no Blog, ter um propósito nos faz mais felizes. Sob uma perspectiva eudaimônica, um propósito nos dá clareza de identidade e do que queremos na vida.
3. Praticar atividades físicas. Já sabemos que mens sana in corpore sano, então ter uma rotina de caminhadas, praticar exercícios, pedalar ou mesmo subir e descer escadas são os melhores antidepressivos. A atividade física aumenta os níveis de endorfina, cria uma sensação saudável de realização e ajuda a mente a ficar aguçada.
4. Expressar a criatividade. Somos seres criativos e temos que canalizar nossa criação, seja escrevendo, pintando, desenhando ou o que for. Quando estamos sobrecarregados de informações há pouco espaço para o pensamento criativo ou para a mente vagar e ser curiosa.
5. Ajudar os outros. Oferecer ajuda, orientar ou simplesmente ser gentil com alguém faz bem a ele e a nós. Fazer o bem nos faz bem. O valor do altruísmo é antídoto para valores superficiais como priorizar seguidores ou curtidas.
E, acima de tudo, ser grato! Pela saúde mental, pela Felicidade, pela vida. E também por saber administrar o tempo de uso das mídias sociais.
Tente viver mais fora das telas e quando entrar nas redes sociais, procure por conteúdos positivos, que possam agregar algo de bom na sua vida, como nossos textos do Blog, informações e curiosidades do Insta, vídeos, podcasts e trilhas sonoras no YouTube e no Spotify.
Uma resposta para “Cuide da mente, não da mídia”
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